Usar o termo é cientificamente incorreto, apesar de disfunções poderem ser semelhantes
Qualquer animal, incluindo gatos e cachorros, podem ter alterações nos cromossomos, que levam a diversas mudanças no organismo e nas feições dos animais. Em muitos casos, essas alterações, que demandam diversos cuidados específicos por parte dos donos, geram comparações com a síndrome de Down, mas o uso do termo não cientificamente correto.
A veterinária Adriana Souza dos Santos, da clínica AmahVet, explica que a síndrome de Down se refere a uma mutação genética específico dos humanos, que ocorre quando a pessoa possui três cromossomos 21 em vez de dois. Os gatos, por exemplo, possuem 19 pares de cromossomos, e os cachorros 39, portanto, a rigor, é incorreto usar o termo para os animais.
Ela explica que as alterações que causam disfunções nos animais ainda demandam diversos estudos e muitos detalhes são desconhecidos. “Entretanto, as disfunções e os aspectos são semelhantes à síndrome de Down. Em especial devido à questão estética. Há uma semelhança e então o termo acaba sendo usado”, explica Adriana.
As alterações mais comuns pelas quais cachorros e gatos com as disfunções genéticas passam são os olhos mais saltados, alterações na morfologia da cabeça, estrabismo, língua pendurada para fora da boca, falta de coordenação motora, falta de atenção e alterações ósseas. Apesar das diferenças na aparência, o diagnóstico é feito por meio de uma série de exames.
No geral, os animais com essas disfunções possuem uma baixa expectativa de vida e dificilmente chegam à idade adulta. Além disso, demandam um acompanhamento rigoroso de profissionais para cuidar dos diversos problemas de saúde acarretados pelas disfunções.
Os cuidados com as disfunções
A dona de casa Andreza Alves Pereira, de 37 anos, é tutora de Tommy, um gato que completou um ano de idade em outubro de 2019. Além de Tommy, ela também tem seis gatos e seis cachorros em casa, mas ele é o único com disfunções genéticas.
Tommy nasceu na fazenda dos pais de Andreza, em Minas Gerais, e tinha quatro irmãos. Ele foi o único com as alterações genéticas, que se manifestaram em sua aparência por mudanças no rosto, além de seus olhos grandes e afastados. Foi apenas após levar o gato em uma veterinária que Andreza entendeu a condição do animal.
Apesar de entender que Tommy não possui exatamente a síndrome de Down, Andreza acaba usando o termo para se referir à condição de Tommy.
“Ele é completamente diferente [dos outros animais]. É mais impaciente, antissocial, não gosta de brincar, se cansa mais rápido. Agora ele não anda mais por causa das deformidades com as quais nasceu, a coluna dele não tem espaço entre as vértebras”, comenta Andreza. Tommy também se alimenta apenas com o uso de seringa.
Andreza comenta que foi informada desde o começo da expectativa de vida reduzida de Tommy, para que ela já pudesse se preparar. “É muito difícil pois amo muito ele. Eu olho no olho dele e é como se ele pedisse para ser cuidado. Você cuida com muito amor e uma hora tem que deixar ir”, desabafa.
Para tentar levar mais conhecimento sobre a condição de Tommy, que apesar de rara ainda gera vários casos no Brasil, ela criou uma página no Facebook e uma conta no Instagram para o gato. Nelas, Andreza também recebe fotos e dúvidas de pessoas com animais de estimação em condições semelhantes.
Apesar da boa intenção, Andreza ainda tem que lidar com o preconceito e piadas na internet: “Têm muitos comentários zoando, de fazer chorar. Uma vez uma mulher comentou dizendo que era uma palhaçada, pois ele parecia estar morto. Magoa muito a gente, porque é como se ele fosse um filho”.
Andreza destaca que a decisão de adotar Tommy foi exatamente devido à sua condição: ”Não me arrependo. Ele é um presente, ele [me] ensina todo dia, é um verdadeiro amor.”
“Aprendo a ter paciência, compaixão. Se tiver oportunidade de ter um gato assim, não deixe passar. Eles são um presente, vêm para ensinar, para mostrar um amor diferente, o quanto você precisa amar o próximo”, conclui ela.
*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais